... De bruxas e borboletas.
13 de abril
Aquela manhã de outono nunca mais seria uma manhã de outono pra Pierre. Acordou cedo como sempre, olhou em volta da velha casa onde morava e constatou mais uma vez a realidade que impusera a si mesmo: ser sozinho. Tinha orgulho dessa opção e, não raramente, se vangloriava de tê-la feito. Porém, seu peito apertava de modo diferente do que aconteciam todos os dias. Sabia que alguma coisa boa ou ruim iria acontecer naquele dia. Não deu muita importância, porque afinal de contas coisas boas ou ruins são o que acontecem com qualquer cidadão normal no seu dia-a-dia.
Com gosto de uísque barato na boca e uma sensação de quero mais, levantou-se e enquanto ia ao banheiro barbear-se e fazer sua higiene matinal cumpriu seu ritual. Ligou seu computador, verificando se a internet estava devidamente conectada, ligou o rádio para ouvir notícias, e pôs o fone do mp-4 no ouvido. Nunca soube exatamente o porquê ligava para ouvir notícias se enquanto estava no banheiro ouvia suas músicas preferidas. Mas como sua companheira constante não fazia perguntas, por que, justamente ele as iria fazer?
O domingo tinha sido entediante. Sua vida, de fato, era é um tédio. O uísque havia aliviado um pouco a monotonia do dia anterior. Mas a segunda feira chegara impiedosa e cobrando suas obrigações profissionais. Porém, sabe-se lá porque, naquele dia resolveu fazer uma coisa que não fazia há anos: caminhar pelas redondezas de sua casa. Ali iniciaria a metamorfose de sua vida.
No frio típico das manhãs de outono saiu para caminhar. No seu mp-4 estava seu mundo. Fechado naquele casulo descobriu que pessoas nasciam e envelheciam com naturalidade e ele nem estava percebendo isto. Era um suicida moroso. No entanto as fisionomias das pessoas começaram a fasciná-lo de uma forma que ele sentia que alguma coisa diferente brotava na sua alma.
Subitamente o celular vibrou na sua calça. Foi atender e o aparelho caiu no chão. Ao pegar o aparelho deu conta das folhas secas que todos pisavam impiedosamente enquanto faziam sua caminhada. Sempre havia olhado este fenômeno da natureza acontecer, mas nunca tinha dado a devida importância a ele. Pegou uma folha na mão e, ainda ouvindo “Blowing in the wind”, levantou a cabeça e viu uma folha verde, nova, numa árvore.
Definitivamente a caminhada pararia ali. E foi quase isto que aconteceu. Do nada, percebeu como a vida é tudo e nada ao mesmo
Aquela manhã de outono nunca mais seria uma manhã de outono pra Pierre. Acordou cedo como sempre, olhou em volta da velha casa onde morava e constatou mais uma vez a realidade que impusera a si mesmo: ser sozinho. Tinha orgulho dessa opção e, não raramente, se vangloriava de tê-la feito. Porém, seu peito apertava de modo diferente do que aconteciam todos os dias. Sabia que alguma coisa boa ou ruim iria acontecer naquele dia. Não deu muita importância, porque afinal de contas coisas boas ou ruins são o que acontecem com qualquer cidadão normal no seu dia-a-dia.
Com gosto de uísque barato na boca e uma sensação de quero mais, levantou-se e enquanto ia ao banheiro barbear-se e fazer sua higiene matinal cumpriu seu ritual. Ligou seu computador, verificando se a internet estava devidamente conectada, ligou o rádio para ouvir notícias, e pôs o fone do mp-4 no ouvido. Nunca soube exatamente o porquê ligava para ouvir notícias se enquanto estava no banheiro ouvia suas músicas preferidas. Mas como sua companheira constante não fazia perguntas, por que, justamente ele as iria fazer?
O domingo tinha sido entediante. Sua vida, de fato, era é um tédio. O uísque havia aliviado um pouco a monotonia do dia anterior. Mas a segunda feira chegara impiedosa e cobrando suas obrigações profissionais. Porém, sabe-se lá porque, naquele dia resolveu fazer uma coisa que não fazia há anos: caminhar pelas redondezas de sua casa. Ali iniciaria a metamorfose de sua vida.
No frio típico das manhãs de outono saiu para caminhar. No seu mp-4 estava seu mundo. Fechado naquele casulo descobriu que pessoas nasciam e envelheciam com naturalidade e ele nem estava percebendo isto. Era um suicida moroso. No entanto as fisionomias das pessoas começaram a fasciná-lo de uma forma que ele sentia que alguma coisa diferente brotava na sua alma.
Subitamente o celular vibrou na sua calça. Foi atender e o aparelho caiu no chão. Ao pegar o aparelho deu conta das folhas secas que todos pisavam impiedosamente enquanto faziam sua caminhada. Sempre havia olhado este fenômeno da natureza acontecer, mas nunca tinha dado a devida importância a ele. Pegou uma folha na mão e, ainda ouvindo “Blowing in the wind”, levantou a cabeça e viu uma folha verde, nova, numa árvore.
Definitivamente a caminhada pararia ali. E foi quase isto que aconteceu. Do nada, percebeu como a vida é tudo e nada ao mesmo tempo e irracionalmente abraçou aquela árvore. Mais que isto, praticamente fez amor com aquela árvore como se quisesse fecundar mais folhas verdes nela, contrariando as regras que o outono impunha a ela. Lágrimas escorreram daqueles olhos secos e frios.
Dando conta do vexame, soltou a árvore e voltou apressadamente pra casa. Não que tivesse atrasado para o serviço. Como advogado era seu próprio patrão e ele impunha o horário a ele. Mas a vergonha da cena ridícula que havia proporcionado ás pessoas que faziam seu “jogging” pela manhã era muito mais pesada em sua consciência. Chegou em casa, tomou banho rapidamente, colocou seu terno e gravata e foi para o escritório.
Como sempre, deixou o computador e o rádio ligados. Seria aquilo uma forma de dizer ao mundo que sua alma estava presa àquela casa? Nunca ninguém soube, nem ele. Porém, no caminho prestou mais atenção ás pessoas e, principalmente, naquela árvore. Olhou-a com um carinho como nunca havia dispensado a mulher nenhuma e , sem perceber, fez um aceno com a mão como se dissesse para nova amiga: volto logo.
Entrou no escritório na mesma modorra de sempre. Nunca entendera a opção profissional que fizera mas, ainda assim, insistia em exercê-la. Sua sala era inversamente proporcional a sua casa. Impecavelmente arrumada, acarpetada, confortáveis poltronas para ele e seus clientes, estantes cheias de livros – tanto do mundo jurídico, como de clássicos da literatura universal - uma TV, telefone e, claro um computador com acesso ultra-rápido para internet.
Sempre achava os dias cansativos. Na realidade os dias eram espelho daquela alma cansada e desacretidada nos homens, no amor, na humanidade.
Porém aquele dia uma vibração começou tomar conta do seu ser. Tinha a impressão que entrara em simbiose com aquela árvore. Sim, se por um lado tinha a sensação de ter fecundado folhas novas por outro havia recebido a seiva da vida dela. E talvez, ou principalmente, por isto não viu o dia passar.
Deixou seu local de trabalho sorrindo. Há quanto tempo não sorria? Havia perdido na menória esta resposta. Sua vontade era chegar o mais rápido possível em casa e fazer uma nova caminhada. Só até aquela árvore, onde a contemplaria mais um pouco em busca do que havia perdido: a felicidade. Sim, aquela árvore estranhamente lhe dava uma sensação de felicidade que há muito não experimentara.
Porém o destino começou a conspirar contra ele. No caminho para sua casa uma chuva torrencial caiu. E, por mais que estivesse em êxtase com aquela árvore, jamais sairia na chuva para buscar mais energia para a sua vida. Na realidade não tinha a exata noção de tudo isso, mas sabia que uma magia envolvia aquela árvore. E esta palavra foi decisiva para ele começar a entender todo o processo que estava deflagrado a seu favor: magia.
Como a chuva teimava em não passar, Pierre se ouviu obrigado a ficar trancado dentro de casa. Em outras ocasiões, ficaria feliz com aquela chuva pois poderia curtir sua solidão em paz e teria a certeza que não receberia visitas incovenientes. E pra ele, todo o tipo de visita era inconveniente. No entanto, a magia daquela árvore tinha determinado a gênese de um novo homem. Não havia se dado conta disto mas ele já não era mais o mesmo.
Trancado naquela casa, sem opção do que fazer, aumentou o volume da televisão e foi acessar a internet. Imediatamente digitou a palavra magia. Era agnóstico por natureza, mas a palavra magia estava na sua cabeça. E ali começou a navegar pelos links e palavras que conduziam á magia.
Leu sobre o segredo do pentagrama, as forças da natureza, gnomos, e até sobre bruxaria. Por menos que gostasse admitir aquilo começou a exercer sobre ele um fascínio tão grande que foi como se todas as respostas que vinha fazendo a si mesmo durante o período de solidão absoluta, encontrassem eco na sua alma. E investigou o mais que pôde até que foi vencido pelo sono. Para não cair dormindo em cima do teclado, levantou-se e caiu na cama já dormindo.
Sonhou a noite inteira com elementos ligados á magia, mais dois em especial marcaram não só seu sonho como seriam determinantes para todo o resto da sua vida: uma bruxinha verde e uma borboleta roxa. Nunca havia visto nada igual em sua vida. Também pudera, ele nunca dera a menor importância para nada que se referisse aos poderes que a Mãe Natureza tem sobre nós e sobre nossos destinos que jamais ele poderia entender os significados implícitos da magia. A partir deste sonho a história da vida de Pierre teria uma guinada de 180 graus.